Kizumonogatari 01v3, 02v2 e 03 (e uma notícia)

Infelizmente, nem tudo na vida são flores. Se um dia sorrimos, no outro dia choramos, e para cada dia de celebração, há um dia de pesar. Se o Oshino lesse isso, ele provavelmente diria que ambos são pratos da mesma balança e igualmente importantes para se manter o equilíbrio das coisas, mas eu não me sinto bem em ter que dar uma notícia ruim quando há alguns dias estávamos celebrando um marco na história do fansub. A notícia em questão é que este filme marca o último lançamento do qual eu, o AntsyPuppet, farei parte e no qual estarei envolvido. Quando vocês lerem este post, eu já não farei mais parte do Moshi Moshi. O motivo… não é simples, e essa não foi uma decisão tomada de repente.

Antes do começo da temporada de primavera e do retorno dos membros da equipe que estavam inativos, assim como a entrada de outros, o Oyashiro e eu éramos os únicos que, de certa forma, ainda estavam ativos, já que ambos tínhamos projetos nos quais estávamos trabalhando, ainda que a passos lentos. Pessoalmente, ver os demais membros voltarem à ativa foi motivo de alegria para mim. A ideia de poder voltar a trabalhar em uma equipe maior e as possibilidades que isso trariam me encheram de esperança e empolgação, mas a realidade, como costuma ser, foi menos gentil do que eu esperava. Bem, antes de continuar, quero que saibam que, apesar de a decisão não ter partido de mim, a culpa dos acontecimentos que levaram até ela não é de ninguém senão minha.

Recentemente, eu li a fala de uma personagem em um romance cujo tom de verdade ressoou profundamente dentro de mim. Ela dizia: “Enquanto os seres humanos viverem neste planeta, estaremos fadados a combater uns aos outros – e eu não me refiro somente à troca de socos físicos. Toda interação humana é uma forma de combate”. (Keziah, Trample on “Schatten!!”) Como sabem (ou não), eu fui o tradutor de Kakushigoto, o primeiro projeto no qual a maior parte da equipe trabalhou depois do retorno dos demais membros. Desde o primeiro episódio, houveram divergências de preferências e opiniões, sobre como certas coisas deviam ser feitas, a exemplo usar honoríficos ou não, e nessas discussões, muitas vezes eu expressava as minhas opiniões com bastante força. Em nenhuma dessas ocasiões, era a minha intenção magoar ou ofender ninguém, e eu acredito jamais ter dito algo que atacasse qualquer membro diretamente, mas isso não impediu que alguns membros tomassem as minhas palavras para si, ou se sentissem ofendidos com algumas das coisas que eu disse. Ainda que não fosse esse o caso, vocês podem imaginar como deve ser difícil discutir algo com alguém que expressa suas opiniões veementemente. Apesar de ter sido chamado de intransigente, eu não me considero uma pessoa inflexível ou incapaz de ouvir os outros, e a prova disso é eu ter, de um jeito ou de outro, conseguido traduzir Kakushigoto até o final. Só que as palavras, uma vez lançadas ao vento, jamais poderão ser retomadas, de forma que todas as discussões que tivemos no decorrer dessa temporada não poderão ser apagadas, e as palavras que nelas foram ditas serem esquecidas. Nesse mesmo romance que eu mencionei mais cedo, um dos personagens diz uma coisa que sempre será verdade, e eu apenas coincidi de ler recentemente:

“Mas quer saber… não é fácil dizer o que você pensa. As coisas que você diz podem ter consequências severas. Palavras são como fagulhas, e quanto mais você diz, maiores são as chances de começar um incêndio. […] Palavras são o único jeito de acender uma chama no coração de alguém. O ditado diz ‘sair da frigideira para cair no fogo’, mas esse ditado só se aplica à comida. Quando se trata de emoções humanas, acho que o ditado devia ser um pouco diferente. Quando os sentimentos dentro de você explodem, eles escapam do seu coração e transformam-se em uma chama. Quando essa chama alcança o coração de outra pessoa, ela se transforma em um incêndio ardente.” (Daisaku[1][2], Trample on “Schatten!!”)

Quem nunca ouviu dizer que futebol e religião não se discutem? Só que essa frase é usada para dizer que quando se trata de coisas que acreditamos e/ou amamos sem razão nem explicação, não tem por que as discutir, já que a lógica não se aplica, então talvez fosse um erro tentar discuti-las em primeiro lugar. Paixão por animes é o que não falta na equipe, mas o amor, como sabem, assume diversas formas, e acho que falo por todos quando digo que dói ter que ouvir que a sua forma de amar é errada, ou que onde você está não há lugar para ela. Se eu pensar assim, então talvez o Moshi Moshi não seja um lugar para mim, já que eu nunca fui o adepto mais fiel do dogma que o rege e o caracteriza.

A gota d’água, o evento que selou meu destino, aconteceu uma semana atrás, e acho importante mencioná-lo porque acredito que devo pedir desculpas aos demais membros que eu possa ter magoado com as coisas que eu disse.

Como sabem, nosso presente de aniversário para vocês foi o filme de Code Geass, o primeiro de uma trilogia de filmes. Infelizmente, eu não estarei trabalhando nos demais filmes, mas a minha função nele foi fazer o QC, ou seja, assistir ao filme depois de pronto e anotar quaisquer erros que tivessem passado despercebidos. Agora que penso sobre isso, a última vez que fiz o QC de algum projeto aqui foi nos BDs de Akame ga Kill, o que foi há muito, muito tempo. Mesmo assim, eu ainda me lembro das palavras do Kitamura claramente. Não as palavras exatas, mas ele me disse algo do tipo: “Assista aos episódios com atenção e anote qualquer erro de ortografia e gramática. Ignore as expressões e escolhas de palavra na tradução, ainda que você ache que esteja errado.” Como sabem, todo mundo tem seu próprio jeito de falar, e nós, tradutores, temos palavras e expressões que gostamos mais de usar do que outras. Foi nesse dia que eu aprendi pela primeira vez o significado de estilo. Naquela época, eu tinha apenas acabado de descobrir a existência disso. O que eu não fazia ideia é o significado e a importância que isso tem dentro do Moshi Moshi, e devo dizer, essa não foi uma lição fácil de se aprender. Mas enfim, deixando isso de lado, tomando essas palavras ditas há muitos anos como diretriz, eu fiz o QC de Code Geass, e o resultado do meu trabalho foram muitas notas, algumas delas excessivamente detalhadas. Para ser sincero, mesmo depois de tudo que aconteceu, eu ainda não sei dizer se fui longe demais. Será que eu podia ter dispensado minhas explicações de por que algo devia ser de um jeito e não de outro? Será que expliquei coisas de gramática quando não devia ou não precisava? Em algumas linhas, contudo, eu não tentei disfarçar minha decepção, então nessas, talvez, eu tenha ido longe demais. O fato é que, seja como for, as coisas que eu disse magoaram alguns dos outros membros, e eu digo alguns porque quem me disse isso foi o próprio Kitamura. Quem, exatamente, eu magoei, eu não faço nem ideia, já que nenhum deles veio falar comigo. Se as minhas palavras foram capazes de acender uma chama do coração deles, eu só posso imaginar qual sentimento podia estar por trás dessa chama. Raiva? Mágoa? Desmotivação? No fim, eu vou embora sem jamais saber que tipo de chama a fagulha que foram as minhas palavras acendeu no coração deles, mas se nenhum deles quis deixar essa chama queimar, talvez fosse porque ela iria queimar mais a eles do que a mim mesmo, e eu não posso culpá-los por quererem proteger seus próprios corações. Se as coisas que eu disse os magoou, espero que possam me desculpar. Eu realmente sinto muito.

Para (tentar) concluir a minha despedida em um tom mais suave, eu gostaria de trazer outra citação de mais um de meus romances favoritos, Grisaia no Rakuen. Em uma conversa com a Amane, Thanatos tenta saber se depois de descobrir os segredos do passado do Yuuji, o protagonista, ela será capaz de continuar tratando-o normalmente. A forma como ela pergunta, no entanto, destaca uma verdade que se aplica a muitos de nós, mas que muitas vezes não percebemos:

“Se pensar em uma pessoa começa a te causar dor em vez de felicidade, interagir com ela será sempre difícil. Isso quer dizer que você só a aceitou superficialmente… e você não estava nem ciente desse fato. Quando se é jovem, talvez essa não seja a pior coisa do mundo. Você sempre pode dizer que não estava levando-a à sério para começo de conversa. É menos vergonhoso fracassar se você não estava se esforçando tanto assim desde o princípio… Mas se você continuar inventando desculpas desse tipo para si mesmo, você pode acabar se esquecendo de como levar as coisas à sério de vez.” (Thanatos, Grisaia no Rakuen)

Às vezes, quando descobrimos algo sobre alguém ou sobre a sua personalidade que para nós é difícil aceitar, se só de pensar em ter que interagir com ela faz com que você se sinta desmotivado ou infeliz, isso quer dizer que muito provavelmente, você não a aceita como ela é. Da mesma forma, tudo bem dizer que isto é apenas um hobby e que não se pode esperar que uns o levem mais a sério do que outros, mas até quando você pode se esconder por trás dessa desculpa? Erros de falta de atenção só podem ser chamados assim se acontecerem duas ou três vezes. Se acontecer mais do que isso, então talvez algumas pessoas estejam confortáveis demais por trás da justificativa de que “isto é apenas um hobby”.

Vocês já assistiram ao anime High Score Girl? Em uma conversa com o motorista da Akira, a mãe do Haruo faz uma pergunta que eu jamais vou esquecer: “Se você não levar o seu hobby à sério, então na vida, o que você vai levar?” Eu não sou o único que pensa assim, e se vocês conhecem High Score Girl, sabem que esse é um anime sobre duas pessoas que têm uma paixão profunda por jogos, e que se comunicam através dessa paixão melhor do que ninguém. Infelizmente, desta vez, a comunicação falhou, e quando um dos lados desiste, a interação deixa de ser uma conversa. “Quando um não quer, dois não brigam”, já o ditado popular.

Desculpem pelo longo post, mas eu gostaria de atar o máximo de pontas soltas possível, e seria difícil fazer isso com poucas palavras. Para aqueles que estavam se perguntando que impacto a minha saída terá no fansub, eis um simples resumo: 1. Os BDs de Mahou Shoujo Site – cancelados. O Kitamura chegou a refazer todo o timing dos episódios, e eu já tinha refeito cerca da metade dos types, mas eu precisaria de mais tempo para terminar os restantes, só que agora é tarde demais. Eu sinto muito pela notícia, sei que alguns de vocês estavam esperando por eles, e eu mesmo gostaria de ter terminado esses BDs, mas agora que não faço mais parte do fansub, não faz sentido eu continuar trabalhando para ele. Infelizmente, o Kitamura não curtiu muito a série, o que faz com que eu me sinta mal, pois agora o trabalho dele está sendo desperdiçado, e eu não espero que ele ou outro membro irá querer fazer esses BDs no meu lugar. 2. Os BDs de Banana Fish e Yakusoku no Neverland – incerto. Algum tempo atrás, o Kitamura conversou comigo sobre a possibilidade de fazê-los ainda este ano, já que ambos seriam relativamente fáceis, e são séries melhores do que Mahou Shoujo Site, então talvez seja possível, mas agora que estou saindo, não contem com isso por enquanto. 3. Owarimonogatari – vai continuar, é claro! Não sei como, mas isso eu garanto, enquanto este fansub existir, o Kitamura vai achar um jeito de lançar tudo que falta. Talvez eles refaçam tudo, desde o primeiro episódio, mas eu não me importaria de ceder tudo que fiz até o momento para que continuassem de onde parei.

Por fim, gostaria de desejar tudo de bom ao Moshi Moshi e a seus membros. Levo comigo várias lembranças boas e peço desculpas pelas ruins que criei. Todos que quiserem, sejam fãs ou membros da equipe, podem me contatar a qualquer momento. Como já dizia em uma certa canção: “chegar e partir são só dois lados da mesma viagem.” Não existe encontro sem despedida, ou em mais uma de minhas citações:

“O mundo não é tão complicado. Siga em frente e você encontrará o futuro. Dê meia volta e encontrará suas lembranças. Tire um pedaço e você tem uma história. Esta é apenas uma pequena parte de um desses contos.” (A rota da Michiru, Grisaia no Kajitsu)

Partilhar:

11 comentários em “Kizumonogatari 01v3, 02v2 e 03 (e uma notícia)

  • 10 Julho, 2020 em 22:00
    Permalink

    Obrigado pelo trabalho desempenhado até aqui, caro amigo.

    Responder
  • 10 Julho, 2020 em 22:21
    Permalink

    Muito obg pelo filme e parabens pelo aniversario <3

    Responder
  • 10 Julho, 2020 em 23:11
    Permalink

    Muito obrigado por toda a sua contribuição e parabéns por reconhecer seus erros e buscar se tornar uma pessoa melhor. Fiquei triste lendo sua postagem, sei como é difícil deixar para trás algo que gosta e se dedicou tanto com isso. Boa sorte.

    Responder
  • 11 Julho, 2020 em 7:28
    Permalink

    obrigado pelo ótimo trabalho de vcs

    Responder
  • 11 Julho, 2020 em 13:26
    Permalink

    Muito obrigado-domo por completo essa trilogia maravilhosa de monogatari!

    Responder
  • 11 Julho, 2020 em 17:14
    Permalink

    Normalmente quem se magoa com essas coisas não está preparado para fazer legendas, muito menos para melhorar.

    Descanse em paz.

    Responder
  • 12 Julho, 2020 em 1:08
    Permalink

    Muito obrigado pelo excelente trabalho!

    Responder
  • 13 Julho, 2020 em 0:15
    Permalink

    Muito obrigado pelo trabalho.
    Aguardo mais episódios das temporadas seguintes de Monogatari

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *